IMPRESSÃO MUSICAL NA BAHIA[1]

Manuel Veiga

A Mercedes Reis Pequeno

 

Hoje, a indústria cultural aciona estímulos e holofotes deliberadamente vesgos, e é preciso uma pesquisa acurada para descobrir que o mundo cultural não é apenas formado por produtores e autores que vendem bem no mercado.

Milton Santos, “Da cultura à indústria cultural”, 19.03.2000.

 

 

 

O presente como ponto de partida

 

O período da história da música ora coberto pelo projeto “Impressão Musical na Bahia” é de cerca de 1850 a 1933. A data superior, variável, atende à exigência de setenta anos para liberação de direitos autorais pela atual legislação brasileira. Há uma intenção fundamental de se restituir algo esquecido, ou perdido, o que está sendo feito pela Internet e, brevemente, pela publicação de CD-ROM’s, estes para distribuição gratuita por centros de documentação de música do Brasil e do exterior e entre pesquisadores interessados.

Qualquer projeto de história não terá grande interesse se, de algum modo, não fincar um pé no presente. É pela janelinha que se abre hoje que se procura ver quanto do passado ainda está no presente e quanto do presente já estava no passado. Quanto ao tempo, duas vias conduzem à compreensão do homem: uma, de tempo variável, se fixa em “processos”, ou seja, história; outra, de tempo zerado, busca “estruturas”. Nos estudos musicais, grosso modo, aí reside também a principal diferença entre musicologia histórica e etnomusicologia. Antes uma questão de grau do que de diferenças essenciais, desde quando estrutura e processo se complementam. Para a etnomusicologia, entretanto, com sua ênfase nas execuções de músicas de tradição oral, tudo é presente. De cunho histórico, é necessário advertir, este esforço está sob a ótica de etnomusicólogos. Do contrário, despreocupado com as obras primas, talvez nem sequer tivesse sido empreendido.

Não se estranhe, portanto, que esta apresentação se inicie com uma reflexão sobre o presente. Sons locais de uma cultura carnavalizada e trio-eletrocutada são sintomas assustadores de uma doença que é a equação da cultura com a indústria cultural, tudo isto ao abrigo da lei maior do país, mutante ao sabor dos dirigentes, inconsistente e até inconseqüente no que concerne aos conceitos de cultura.

Milton Santos, autor da epígrafe, também achava que a festa faz parte da vida, e assim se poderia aceitar que certos temas ganhassem tratamento festivo, permanecendo na superfície das questões, em vez de aprofundá-las. Outros, entretanto, exigiriam uma atitude mais severa – por exemplo, a cultura. Essa cultura, para ele, está intimamente ligada às expressões da autenticidade, da integridade e da liberdade, sem o que não seria “o grande cimento que defende as sociedades locais, regionais e nacionais contra as ameaças de deformação e dissolução de que podem ser vítimas” (Santos, 2002: 65 et passim).

A “escorregadia” questão do que seja a indústria cultural e de como se dão seus efeitos perversos em termos de tempo e lugar tampouco escapou ao mestre baiano. Não seriam preocupantes as trocas e mudanças culturais que ocorrem no encontro das culturas, mas a assimetria na sociedade babelizada que é a nossa, em que “as contaminações de umas culturas pelas outras tornaram-se possíveis industrialmente, dando lugar a uma mais forte influência daquelas tornadas hegemônicas sobre as demais, que assim são modificadas” (2002: 66).

Não são apenas lamentos de músicos, artistas, literatos, cientistas, professores, de que se trata aqui. Mas da efetiva afirmação da necessidade de uma política cultural séria, integradora, não dirigista, que não confunda cultura, em sentido antropológico, definidora da espécie humana, com um apêndice de mercado cultural gerador de empregos. Nem tampouco que se faça dela um mero aceno a ideais gentis de apreciação das belas artes, da etiqueta, das modas, de civilização, em suma. Matthew Arnold, poeta, educador, admirável defensor do helenismo, patrocinou esse modelo, mas viveu para uma Inglaterra dos idos de 1860, não para o Brasil ou a Bahia do presente e do futuro que queremos construir, e que necessita ser planejado. Foi a UNESCO que há mais de trinta anos tentou definir progresso cultural como um preparo do homem para a mudança acelerada em que se encontra (Giraud, 1972: 15). Isso seria alcançado pela educação continuada, aquisição das linguagens do tempo e reciclagem de técnicas, mas sem perda da identidade, ou seja, da alma. Se a função máxima, função das funções de música for, como sugere Bruno Nettl (1983), relacionar o homem com o sobrenatural, ela transita entre deuses e homens e pode assim ser um coadjuvante poderoso no processo de mudança.

 

O passado como ponto de chegada

 

Ao contrário do México, que já contava com uma imprensa musical em 1539, ou do Peru, que imprimiu música polifônica a quatro vozes, com texto em quíchua, em 1631, a impressão de música é fenômeno tardio no Brasil. Torna-se regular no Rio de Janeiro apenas a partir de Pierre de Laforge, por volta de 1834.

Na Bahia, embora a Tipografia de Manoel Antônio da Silva Serva, a primeira editora particular do Brasil, já publicasse em 1813, em fascículos, o que seria a 3ª edição do vol. 1 da Viola de Lereno, reconhecidamente uma coleção de textos para serem cantados (cantigas, em geral, modinha, lundus), a impressão de música parece ser fenômeno das litografias e tipografias da segunda metade do século XIX.

Há, sem dúvida, mistérios na antiga sede do governo geral e do primeiro bispado, hoje centro de destacada produção musical. Um deles é o hiato de mais de 50 anos sem impressos musicais que conheçamos, a contar do citado estabelecimento pioneiro de Silva Serva. Essa atividade de impressão de música na Bahia, segundo o que se pôde levantar, se tardia em seu início, tampouco foi uniforme. Gradativamente cedeu lugar ao parque industrial paulista, já pelos fins do século passado, como veremos mais tarde, passando a editar música que chegaria a ser impressa até na Europa, em alguns casos. Publicar fora seria também um sinal de prestígio, parte de um processo de legitimação que verificamos até hoje.

Eventualmente, o esquecimento chegou a ponto de nada termos a relacionar como fontes bibliográficas, exceto os Anais da Imprensa da Bahia: 1º Centenário (1811 a 1911) de Torres & Carvalho e a importante contribuição da admirável Mercedes Reis Pequeno, em verbete publicado em duas edições sucessivas da Enciclopédia de Música Brasileira (1977, 1998); a segunda publicação sem autorização e possibilidade de revisão da competente musicóloga e bibliotecária fundadora da Seção de Música da Biblioteca Nacional. Uma terceira publicação do texto, ora em Inglês, às instâncias de Robert Stevenson, apareceu no Inter-American Music Review (1988). O estudo de Mercedes é pioneiro e importante para todo o Brasil, tanto assim que a ela se dedica esta pesquisa inteira, mas o que havia reunido sobre a Bahia não passava de dois bons parágrafos. Trabalhou a ilustre amiga com o acervo de impressos musicais da Biblioteca Nacional e com edições de antigos jornais do Rio de Janeiro pelo que, dando-se conta disto, só recentemente pôde nos abrir caminho para o acervo baiano da Biblioteca Nacional, à qual tanto se dedicou. Não há como eludir um fato verdadeiro: não podemos atribuir aos outros as tarefas pelas quais nós próprios temos de nos responsabilizar, se é que nos interessamos por elas.

 

Confrontos e explicações

 

Musicólogos históricos, ao contrário de outros historiadores, não podem se alhear daquilo que pesquisam. Se uns, os historiadores políticos, por exemplo, não precisariam gostar de Napoleão para escreverem sobre o Diretório, outros, historiadores de música, tendem a amar seu objeto de estudo em razão de sua essencial condição de músicos, além de musicólogos.

Ao transferir-se para o Rio de Janeiro, em 1928, Guilherme Teodoro Pereira de Melo (1867 – 1932), o menino pobre que estudara música em sua cidade natal, Salvador, e que conquistara prestígio em sua época, levava para a biblioteca do Instituto Nacional de Música[2] toda a sua preciosa coleção de modinhas. Não seria exagero afirmar que com ele também iam para o nimbo as esperanças de uma musicologia histórica baiana, cuja ressurreição é produto dos últimos vinte anos.

Músicos, na versão ocidental artística, convivem com uma histórica cadeia de discriminações, a partir da própria matriz européia. Rivalizam-se italianos, franceses e alemães, entre si, e contra os ibéricos. Espanha e Portugal, por sua vez, projetam seu mútuo desentendimento sobre as colônias. Dentro do próprio país, Sul-maravilha olha Nordeste de cima para baixo. Em princípio (isto prevalece até hoje), o produto local não presta. Todos temos de buscar legitimação fora.

Como repercussão eventual de uma tendência à centralização de recursos entre Rio e São Paulo, os instrumentos de informação biobibliográfica ali produzidos, sem consulta aos provincianos nativos, não nos são propícios. Evidentemente, o fomento a uma política de descentralização resultaria num aumento da circulação entre os pólos culturais multiplicados e um incremento à vida musical local que, no fim das contas, é o que interessa.

A musicologia histórica na Bahia começa com Guilherme de Melo. A música no Brasil desde os tempos coloniais até o primeiro decênio da República foi publicada em Salvador, na Typ. de S. Joaquim, em 1908. Não se trata de uma obra científica, no sentido da Musikwissenschaft [ciência musical] alemã que Guido Adler já codificara desde 1885[3]. Muito antes dele, aliás, Aristides Quintilianus (século 2), já definira o milenar campo da teoria musical com a abrangência que hoje tem a musicologia e suas subdivisões, enquanto a teoria se reduziu basicamente ao estudo das estruturas musicais.[4]

A obra de Guilherme de Melo teve pelo menos mais duas edições fora da Bahia: uma, parcial, no Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, em 1922, pp. 1621-1679; outra, a 2ª ed., no Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1947. Amadorístico e provinciano, ainda assim o esforço de Guilherme de Melo é importante: estabelece um padrão que seria seguido por outro baiano, Renato Almeida, na monumental 2ª ed. correta e aumentada de 151 textos musicais de sua História da música brasileira (Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1942). Neste caso, substancial parte do volume não é história, mas etnografia e folclore, ora sob flagrante tendência nacionalista e historicalista, segundo as quais a base evolutiva da música artística teria de ser necessariamente a “sinfonia da terra” (termo da primeira edição, de 1926). Uma oposta concepção, defendida por Roger Bastide, a chamada “teoria do desnivelamento”, levava Mário de Andrade a verdadeiras peripécias para driblar a origem erudita da modinha, que podia perceber, mas cuja popularização era para ele teoricamente inconcebível.

Para os baianos, o provincianismo de Guilherme de Melo é hoje providencial. De especial interesse são a seção devotada a pequenas biografias de compositores da Bahia (pp. 229-257 da 2ª ed.), as informações sobre danças e reisados, os numerosos exemplos musicais, alguns deles de primeira mão (“Zé do Vale”) e até mesmo o Capítulo 4, dedicado quase inteiramente a um relato, não isento de fofocas, das atividades musicais da Bahia, julgadas numa perspectiva de “degradação”, ao longo da “influência republicana” que sucedeu à “bragantina”.

Quanto a Renato Almeida, provavelmente de embasamento teórico mais sofisticado que Melo, não poucas vezes faz falta o músico, o que o último sem dúvida foi. Por que se preocupar com impressos de música baiana, predominantemente de salão, se a base deveria ser folclore?

 

Fundamentação

 

Na perspectiva das culturas musicais do mundo, poder-se-ia talvez afirmar que processos “naturais” de transmissão seriam fundamentalmente os da via oral e aural, segundo Nettl, sutilmente distintas entre si, as pessoas aprendendo não tanto pelo que lhes é dito ou cantado, mas pelo que diretamente ouvem.

Na verdade, a transmissão é um processo complexo no qual o conhecimento musical pode ser modificado ou mantido. Inovações (ou não), reavaliações, questões de identidade, podem levar a substituições que, se ocorrem, dependem de aceitação social para que sejam implementadas e se integrem naquilo que constitui a música de um povo.

A impressão musical, um caso particular da transmissão, pende da existência de sistemas de notação. E estes, por sua vez, se prendem a aspectos tão diversos quanto os de elaboração, registro e execução de obras que não sejam predominantemente improvisadas. Mas, a despeito do quão importante a notação tem sido para nossa cultura musical artística de modelo europeu, com seu conceito de “composição”, ela não é essencial ao processo musical, ou é até mesmo destituída de sentido nas culturas orais, não quirógrafas, ou nas que usem notação para fins teóricos, não para execução ou registro, como a indiana. Se usada para a execução, porém, é provável que influa nos processos mentais dos músicos e, por seu intermédio, no de seus ouvintes. A cultura oficial brasileira tem sido paradoxal e preguiçosa em relação às artes e à música, em particular. A existência da notação torna-a sinônimo de erudição, com conotação de inacessibilidade, o que é absurdo desde quando tudo que música essencialmente requer é ser ouvida.

Muito tem se discutido sobre as distinções entre as músicas de tradição oral e as de tradição escrita. Em última análise, a divisão de tarefas entre a musicologia histórica e a etnomusicologia, descartados os preconceitos, se apóia em grande parte sobre uso de notação, de um lado, e a oralidade, de outro, o que implicaria basicamente numa questão de metodologia. É fácil concordar com Charles Seeger, entretanto, que para o ensino e aprendizado de música importa mais a relação entre o oral e o escrito do que a diferença entre eles. Isso se torna ainda mais significativo quando a transmissão ocorre simultaneamente pelas duas vias.

Uma imprensa musical não seria possível e sustentável sem uma clientela de leitores e consumidores de música cujo gosto fosse atendido. No caso baiano e no período em apreço, isto quase necessariamente resulta em música de salão, além de hinos patrióticos e religiosos e peças de virtuosismo. Não raro há lugar também para homenagens mais ou menos interessadas. Não há, por força, uma subordinação do estético, mas este também se amolda ao bom ou mau gosto da época, a exemplo de alguns paroxismos mórbidos da modinha ou, pior ainda, dos melodramáticos recitativos, aqui também impressos. Partituras mais ambiciosas, porém, tendem a permanecer em manuscrito, à espera de patrocínio oficial para publicação a fundo perdido, algo no mínimo caprichoso sem uma política editorial e cultural lúcida, definida para tal fim.

Na situação da Bahia, como em outras províncias (Pernambuco, Pará, São Paulo)[5], em que uma impressão musical era possível, além do Rio de Janeiro, o fenômeno parece ter tendido a uma consolidação nas últimas décadas do Século 19, consolidação efêmera para a maioria. Como já dissemos, à proporção que o parque gráfico de São Paulo se consolidava (apesar do início tardio, em torno de 1863), a incipiente impressão musical das demais províncias (estados, com a primeira constituição republicana, de 1891) ali mais e mais se concentraria, inclusive com o esvaziamento do Rio de Janeiro.

Fatores múltiplos, além dos políticos e econômicos, devem ser lembrados: o advento do fonógrafo, desde 1889, por exemplo, eventualmente do disco e o enorme impacto da radiodifusão estão entre eles, afetando a própria tecnologia da transmissão. A Sociedade Rádio da Bahia, PRA-4, por exemplo, já existia por volta de 1924, em data muito próxima à das primeiras emissoras cariocas. Temos de lembrar ainda o cinema e, eventualmente, a televisão, antes do mundo virtual da Internet.

Enquanto função de entretenimento, o indispensável piano que dera seus primeiros passos na Bahia por volta de 1810, com energia suficiente para alcançar os engenhos do Recôncavo de canoa, não cederia de vez os seus espaços, mas eventualmente começaria a competir fatalmente com as geladeiras e os automóveis do surto industrial brasileiro pós-Juscelino, sem sequer caber nos elevadores dos prédios que iriam mudando o perfil de cidades antigas, como Salvador.

 

Contextos: Senhor do Bonfim faz política

 

Essa relação estreita entre o que se publicava e a clientela de consumidores faz dos impressos testemunhos eloqüentes dos acontecimentos contemporâneos, sejam de que ordem forem: sociais, políticos, religiosos, anedóticos, modas e vogas, conseqüentemente documentos de interesse para a história da Bahia.

Tomado como exemplo, nem um hino para as comemorações e homenagens ao Senhor do Bonfim, em torno do Dois de Julho de 1923, centenário da data maior da Bahia, escaparia a isso. Não um poeta, dois foram requisitados, ambos excelentes, o segundo quase genial: Pethion de Villar [Egas Moniz Barreto de Aragão] (1870-1924), a pedido de um membro da Irmandade do Senhor do Bonfim, o médico e professor Dr. José Eduardo Freire de Carvalho Filho, também seu colega; Artur de Sales (1879-1952), por semelhante solicitação do prefeito de Salvador, Dr. Manuel Duarte de Oliveira.

O poema de Pethion, considerado oficial, foi musicado pelo maestro e compositor Remígio Domenech, injustamente esquecido das enciclopédias e dicionários de música brasileira. Por decisão de dom Tomé Jerônimo da Silva, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, o hino conferiria “cem dias de indulgências a quem o cantasse”. O tenente da Polícia Militar de Salvador e mestre de banda, João Antônio Wanderley (1879-1927), não obstante, também o musicaria, contribuindo para o imbróglio: já fora o compositor do texto de Artur de Sales. Em suma, temos três hinos de dois compositores e de dois poetas diferentes, quando um seria suficiente, não fossem as injunções políticas e religiosas.

Como pano de fundo, o governo de Seabra, em crepúsculo turbulento, buscava num evento popular deter o curso de uma derrota que viria contra Góes Calmon, seu sucessor no governo da Bahia. Amargava um 1923 cheio de dificuldades, inclusive com a morte de Rui Barbosa, de quem nem sempre tinha sido aliado. A imagem do Senhor do Bonfim seria levada à Igreja da Vitória, para permanecer de 3 a 7 de julho, em função dos festejos do centenário do Dois de Julho, gerando dois cortejos cívico-religiosos de grandes proporções. A Mesa Administrativa da Devoção ao Senhor do Bonfim, por sua vez, a princípio negara a solicitação do governador. A imagem jamais saíra de sua basílica, exceto em casos de calamidade pública. Ao ceder, a Mesa decidiu aderir ao regozijo, mas à sua maneira, marcando sua festa para o dia seguinte ao da volta da imagem, 8 de julho. A versão Pethion / Domenech foi assim executada em festa solene, perante o primaz, terminada com bênção papal, no dia seguinte à grande procissão de quase nove horas que trouxera de volta a imagem do Senhor do Bonfim à sua Sagrada Colina.

Curiosamente, o hino que prevaleceu na memória popular é o de Artur de Sales / Wanderley, hoje definido como hino oficial da Bahia (por que não o próprio Hino ao Dois de Julho?), com manifesto desagrado de algumas denominações religiosas não católicas, mas ainda uma vez refletindo a exploração da música e da religiosidade popular por interesses políticos. Embora os três hinos tenham sido publicados, só um deles permanece na memória do povo.

 

Meta inicial, objetivos, metodologia e o acervo obtido

 

O acervo recuperado pelo projeto Impressão Musical na Bahia vem sendo transferindo pelo NEMUS para seu banco de partituras, na Internet http://www.nemus.ufba.br, tarefa laboriosa iniciada em 2002 e prestes a ser concluída. São presentemente 384 partituras[6] (a meta inicial, pessimista, era de 200), incluindo 168 compositores, 79 poetas e autores de texto, mais de 55 gêneros e 5 obras já localizadas de literatura musical. Embora não publicadas ou editadas na Bahia, 32 dessas obras estão sendo incluídas por serem de compositores importantes nela radicados, ou serem peças particularmente relevantes para a cultura baiana. As demais inclusões (352) são produto de 74 núcleos constituídos de variantes das razões sociais de impressores e editores atuantes na antiga província, abrangendo periódicos e suplementos de música (9), no período de c. 1850 a 1933, já mencionado. Um suplemento de natureza apenas bibliográfica (sem partituras) de publicações baianas trará até o presente informações para os interessados.

Como indicador do grau de cobertura alcançado, o índice de duplicações de apenas 12,3% revela, mesmo diante de esforços continuados para ampliá-lo, a dispersão do acervo e a perda irremediável de parte da memória musical baiana.

A identificação dos compositores em verbetes disponíveis em duas das principais fontes se resume a 31 nomes, da ordem de 18,5%, portanto, confirmando a precariedade dos instrumentos de informação biobibliográfica sobre música e músicos na Bahia, tanto pelas omissões, quanto pelas inclusões de compositores e obras até mesmo inexistentes.

Os principais objetivos do projeto têm sido: 1) Levantar o que ainda puder ser localizado dos impressos musicais das litografias e outras oficinas gráficas a partir da segunda metade do século XIX, na Bahia; 2) Classificar o material obtido; 3) Estabelecer cronologias; 4) Relacionar os impressos ao contexto.

Com a variedade de situações com que nos temos deparado, não se pode cogitar de uma metodologia única, oriunda quer da musicologia histórica, quer da etnomusicologia. De imediato, serão implementadas pesquisas na Junta Comercial de Salvador, em busca de registros das firmas impressoras e editoras dos núcleos já levantados e com isto a elaboração de uma cronologia. Sendo as partituras raramente datadas e o estudo dos papéis impraticável, outros artifícios têm sido usados para os problemas de datação: alusões a eventos; ilustrações e títulos que reflitam inovações que capturaram a atenção dos contemporâneos; até mesmo datas de primeira menção de termos nas etimologias disponíveis; dedicatórias a pessoas importantes, presidentes e vice-presidentes de província de mandato fugaz e a nobres de títulos datáveis. Uma sistemática busca dos jornais e almanaques, ainda incipiente, poderá ser produtiva, embora as coleções sejam incompletas, ou mesmo inacessíveis. Os acervos baianos do Instituto Geográfico e Histórico e da Biblioteca Central, bem como da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro são nossa esperança.

Os aspectos positivistas desta pesquisa têm tomado precedência, pelo caráter documental que tem tido. Mas é fundamental que se chegue ao próprio discurso musical, não apenas localizar, digitalizar, datar, identificar, classificar, estruturar bancos de dados. Dados e papéis são importantes, até mesmo para o preparo de edições críticas. É indispensável, entretanto, deixar que a música dê seu próprio testemunho, interpretá-la e, se possível, explicá-la, o que se espera será trabalho para muitos pesquisadores.

Das doze ilustrações de impressos, quatro músicas estão disponíveis[7], em formato MP3 a depender da forma de publicação deste trabalho.

 

Carências

 

Alguns periódicos musicais (não somente o Rio de Janeiro Imperial os publicava) estão incluídos, já dissemos, embora longe de séries completas. Cuidavam de algo comparável ao “literário adubo” de que falava o Visconde da Pedra Branca (1850), referindo-se à prosa de ficção baiana que ia surgindo, em folhetins de jornal, para o entretenimento e edificação das senhoras.

Faltam inteiramente os libretti de ópera que a crônica de Silva Lima, entretanto, fixou[8]. Ambrosio Ronzi os produziu - italiano de um lado, português de outro - para facilitar o entendimento dos enredos das óperas regularmente produzidas a partir de 1845, no Teatro São João[9]. Eventualmente, mães de jovens cantoras se gabavam das filhas cantarem apenas em italiano, mesmo que não entendessem nada do que diziam.

Os espetáculos atraiam pessoas que vinham até do Recôncavo, de véspera, em canoas, e que às vezes pernoitavam no próprio Teatro. Tampouco eram excluídos os mais humildes, como a velha Cunca, a acreditar nas palavras carinhosas de Esther Pedreira falando da servidora da família, doublé de apreciadora do gênero, fazendo soar suas chinelas na torrinha do São João.

Obras teóricas foram também publicadas. A Artinha Mussurunga ainda o era na Bahia, em 1905, pela Imprensa Econômica. Segundo Manuel Querino, houve um Compêndio de Música cuja primeira edição é de 1834, e uma segunda edição de 1846, “dedicado ao seu amigo e condiscípulo, Dr. Francisco Antonio d’Araújo, um dos mais abalizados jurisconsultos de seu tempo e exímio flautista”[10]. Outras artinhas surgidas depois da guerra do Paraguai, “de Aragão, do padre Santana, de Santini e de outros” são acerbamente criticadas por Guilherme de Melo na parte mais provinciana de A Música no Brasil (1947: 263), possivelmente com razão. Ali são tidas em parte como responsáveis pela degradação que julgava presenciar. Nada se conseguiu saber sobre elas, nem sequer se foram impressas, mas sobreviveu um exemplar do Compendio Breve de Musica Theorica para os alunos do Collegio Atheneu, offerecido ao ilustre senhor Dr. José Pereira de Souza pelo professor Manoel Antonio Justo (Bahia [Salvador]: Typ. de Camillo de Lellis Masson & C., 1863). Essa artinha é um primor de superficialidade e de etnocentrismo, mas ainda assim é um significativo suporte à afirmação de Melo. Reduz o estudo teórico de música a oito páginas mais que elementares, indo de uma abrangente epígrafe, em Latim[11], a uma mesquinha definição de música de cinco linhas. A epígrafe parece partilhar de concepções pitagóricas e platônicas, números e idéias como a realidade verdadeira: “A melodia nos foi dada não para as alegrias desprovidas de razão, mas para que reunamos os contornos dissonantes das almas, e para refazermos a harmonia para nós mesmos” (nossa tradução). Ao tratar de “O que é música” (1863: 3), entretanto, a limita ao secundário aspecto da notação, diastemática neste caso, sem alternativas às quais sequer o Canto Gregoriano resistiria: “Música é um composto de sons harmônicos representada com 5 linhas, e 4 espaços naturais, e outras que sobem das naturais à que chamamos de acidentais superiores, e as que descem acidentais inferiores. Vede o exemplo 1º ”. Em suma: se não for escrita, e escrita desse jeito, não é música. Não obstante, é de interesse observar que se trata de uma artinha para alunos de um colégio comum aonde, ainda que ruim, se integrava algum ensino de música, ao contrário dos dias de hoje, com exceções, na Bahia.

 

Impressores e editores

 

Nossa lista de impressores e de editores ainda é provisória. Distribuímos as variantes de nomes de litografias e tipografias e de outros agentes de publicação em núcleos, por semelhança de nomes (razões sociais) ou de localização. Já chegam a 74, como dissemos, mas irão variar, à proporção que nos inteiremos da pertinência do critério que os agrupou. Muitas dessas firmas terão tido existência modesta. Um competente copista, de caligrafia inconfundível, com sua copistaria instalada em endereço que nos alcançou, Balduino dos Santos Oliveira, por exemplo, falecido em 1890, enveredaria naturalmente pelos caminhos da impressão de música. Era também compositor de modinhas e músico competente. Homem pardo, deve ter tido de lutar arduamente por uma ascensão social que não lhe seria fácil, inclusive associando-se a Henrique Albertazzi, italiano de méritos reconhecidos no Brasil e em Salvador, na publicação de periódicos. Seria Balduino o factótum; Albertazzi o selecionador do material a ser publicado. São figuras a merecerem estudo. A assimetria que representam, uma associação entre fama e trabalho, parece se reproduzir em outros periódicos baianos.

Outros são apenas litógrafos ou tipógrafos circunstancialmente imprimindo música. Careciam de conhecimento musical para produzirem registros corretos. Ao contrário, um M. J. D’Araujo parece ter contado com a preferência de muitos compositores, prestando serviço consistentemente de boa qualidade.

 

Ilustradores

 

Tanto os litógrafos e tipógrafos nos interessam, quanto os ilustradores. O NEMUS, todavia, ainda não contou com uma assessoria especializada nas artes gráficas. As ilustrações vão das mais canhestras a pequenas obras de arte. Nomes ilustres, como o de Presciliano Silva (1883-1965), um dos maiores pintores baianos, se esconde por trás do pseudônimo de Bailon para criar um ogro caricato, O Papão, usado também como capa de música impressa em 1904.

Graças a um pequeno capítulo de A Bahia de Outrora, de Manuel Querino se começou a estudá-los: “A Litografia e a Gravura” parece datar de 1914, quando apareceu na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 40 (1914): 36-38, com cinco ilustrações de página inteira. Na 3ª ed. de A Bahia de Outrora, revista e anotada por Frederico Edelweiss (Salvador: Progresso, 1955), acha-se às pp. 318-320.

Aprendemos com Manuel Querino que os primeiros ensaios de litografia entre nós foram de Bento Rufino Capinam, em 1835. Já em 1845, tendo progredido, montava uma oficina litográfica e treinava aprendizes. José Maria Cândido Ribeiro, entretanto, consumado desenhista e retratista a óleo, deu-se mal, como era de se esperar, com a oficina que secretamente montou, em 1848, para cunhar moeda falsa em larga escala.

Em função do problema policial houve um retrocesso até 1850, quando Manoel Emílio Pereira Baião, discípulo de Cândido Ribeiro, estabeleceu-se com oficina de litografia e gravura. Deve ser o Baião da Lit. DeLaço e Baião que responde por um dos itens provavelmente mais antigos do acervo recolhido: a valsa “Sempre Viva” de Damião Barbosa de Araújo (1778-1856), um dos grandes compositores baianos de seu tempo, publicada em um periódico chamado O Philarmônico, necessariamente anterior ou de 1856. O desempenho dessa litografia, no caso, não aponta para litógrafos conhecedores da notação musical.

Gaspar Wirze (sic), natural da Suíça, associou-se em 1835 com Manoel Jacques Jourdan, também com oficina de gravura. Seriam estes os responsáveis pela Lit. Jourdan & Wirz que nos aparece oito vezes, ou simplesmente Lit. Jourdan, com mais três entradas. Jourdan & Wirz publicaram O Recreio das Jovens Pianistas compilado por Albertazzi e dirigido por Balduíno, aos quais já nos referimos. De acordo com os Anais da Imprensa na Bahia (Torres & Carvalho, 1911), a publicação desse periódico teria ido de 1º de outubro de 1857 a 1859.

Algum tempo após o estabelecimento de prêmios anuais e exposições pela Sociedade de Belas Artes (1856), Tito Nicolau Capinam associou-se com Camilo Lélis Masson para fundarem uma importante tipografia. Contaram com o gravador italiano Leopoldo Armanino. Temos da Lélis Masson, como vimos, a pequena obra teórica de 1863, de Manoel Antônio Justo, e um recitativo de 1869, Sempre, música (para piano) de Antonio Osternold, para acompanhar poesia recitada de Bento da Silva (um gênero infeliz que Portugal nos legou).

Encontramos ainda os prenomes e algumas datas para outros artistas e artífices ligados à impressão de música: Heráclio Odilon iniciou seu aprendizado na Lélis Masson, assim como Job de Carvalho, este mais tarde médico e professor de Latim. A primeira gazeta ilustrada surgiria em 1856, em Salvador, com A Buzina, de Manuel Pessoa da Silva, poeta satírico.

Em 1867, Heráclio Odilon e os sergipanos Brício Cardoso e Severiano Cardoso (daí as duas versões da firma Odilon & Cardoso e Odilon & Cardosos, além da mera Lit. de Odilon) criaram o periódico A Bahia Ilustrada, semelhante à Semana Ilustrada do Rio de Janeiro. Entre os que colaboraram com o periódico baiano, outros nomes de artistas nos soam familiares: além do já citado Emílio Baião, os de Antônio Vera Cruz, André Pereira e Bernardino de Oliveira. Querino não vai além de 1867, embora realçando os progressos notáveis da litografia entre nós, de 1835 a 1867.

Evidentemente, os dados que temos sobre os ilustradores ainda são insuficientes para a montagem do quebra-cabeça que é a questão da datação dos impressos.

Enfim, não se pretende que o levantamento dos impressos musicais baianos esteja esgotado. Pelo contrário, a freqüência baixa de obras com exemplares duplicados nos dá a certeza de que apenas levantamos uma ponta do tapete, mesmo que esta ponta já nos proporcione uma amostra significativa. Não devemos entreter a ilusão, porém, de que o resto dessa produção esteja ainda disponível, à nossa espera, indefinidamente. Há pressa, portanto, e este trabalho não se encerra aqui. Contudo, os esforços dos atuais e futuros pesquisadores só farão sentido ao propiciarem acesso ao público do material coletado e estudado, por via de boas execuções. Trata-se de uma diversificada produção musical, até mesmo com alguns pequenos tesouros, quase totalmente esquecida. Refletiu, de maneira particularmente sensível, as alegrias, as dores e preocupações das gerações de nossos avós, no século entre 1850 e 1950, de que nos ocupamos.

 

Critérios de classificação

 

Distinguimos música “impressa” na Bahia, de música “editada” na Bahia, as duas categorias positivas integrando o corpus das “publicações” baianas. O próprio conceito de publicação é mais complexo do que parece, envolvendo a intenção de distribuição geral, face ao que restrições muito conservadoras podem ser criadas, a mera disponibilidade não sendo suficiente.

Não nos interessa aqui um ponto de vista tão restrito. Para o conceito de “edição” estamos adotando o quarto significado do verbete do Novo Aurélio Século XXI: “Publicação de livros, revistas, jornais, gravuras, partituras, discos, softwares, etc., incluindo ou não as fases da produção material e da distribuição” (nosso grifo). É o critério que vimos também aplicado na Divisão de Música e Arquivo Sonoro da Biblioteca Nacional [DIMAS] e que se ajusta ao deslocamento do parque gráfico para São Paulo de que já falamos. As categorias serão numeradas, a saber:

 

1. Peças impressas na Bahia. Aqui entrarão obras em que conste a indicação BAHIA de modo proeminente, com ou sem data, sem qualquer indicação de uma impressora ou gráfica de fora.

 

2. Peças editadas na Bahia por instituições ou pessoas, mas impressas fora. Só serão consideradas as situações em que o carimbo ou dados do editor baiano estejam impressos. Será também necessário para inclusão que no conjunto das obras de um dado compositor, nesta categoria, haja evidentes sinais de vinculação à vida baiana.

 

3. Casos duvidosos, em que vários elementos apontam para a Bahia, mas não se tem certeza.

 

Além dos tipos acima, temos duas categorias negativas: não se acrescentam ao acervo dos impressos baianos, salvo como um comentário, um contraponto. Podem constituir apenas listas ou menções, na maioria dos casos:

 

         4. Compositores baianos ou radicados na Bahia que sistematicamente optaram por publicar fora. É o caso, por exemplo, de Sílvio Deolindo Fróis (1865-1948), o maior compositor baiano de seu tempo. É o que também parece ocorrer, em menor porte, com Camerino Sales, outro excluído dos dicionários e enciclopédias de música brasileira. No caso de Domingos da Rocha Mussurunga (1807-1856), um bom compositor, seriam talvez as condições irrequietas de sua vida (envolveu-se com a Sabinada, foi destituído da cátedra de música e posteriormente reintegrado) ou meramente o que sobrou de sua produção que sobrevive em alguns impressos e manuscritos, no Rio de Janeiro.

 

         5. Peças particularmente significativas para a Bahia, de autores baianos, quer tenham ou não publicado na Bahia, mas que foram editadas e impressas fora. Imagine-se, por exemplo, de Xisto Bahia, o lundu famoso “Iaiá, você quer morrer”. Se bem que Xisto, em sua carreira de ator, tenha percorrido o país de norte a sul, causa estranheza a publicação com o título germanizado para “Ja Já, Você Quer Morrer”, pelo editor Eugéne Hollender, em São Paulo.

 

6. Os expurgos. Esta é uma categoria para uso interno. São peças que nada têm a ver com nossa pesquisa, mas que ainda assim integram arquivos baianos e que por isto mesmo devem ter tido alguma relação com a vida musical dos soteropolitanos, tênue que seja. Em princípio, não as incluiremos. Causa decepção situarmos entre essas a única partitura do santo-amarense Assis Valente (1911-1958) que encontramos. Será um outro baiano que os baianos estão esquecendo?

 

O sítio e seus problemas

 

O banco de partituras do NEMUS, já em avançado estado de construção, está accessível desde 9 de julho de 2002, no endereço http://www.nemus.ufba.br

Lá estão 172 partituras, com outras 100 prontas para a transferência (informação de 08.06.2003), restando ainda 112 pendentes da unificação das duas partes em que cada página das mesmas foi digitalizada. Isso se deve ao fato de se ter trabalhado com scanners A4, equipamentos baratos, não os aparelhos mais apropriados (chegam a mais de dez mil dólares), mas que facilitariam enormemente o trabalho.

Cada página de música geralmente excede a dimensão A4 que se padronizou. A colagem requer perícia e paciência. Vai sendo feita pouco a pouco. Tem-se utilizado também uma câmara digital. Nem sempre se consegue a alta qualidade almejada, quer pela situação do suporte, às vezes muito danificado e frágil, quer por condições de local e de encadernação (álbuns) que não pode ser danificada.

A transferência para o banco de partituras em si é muito fácil, mas cada uma das partituras teve de ser registrada, com muitos campos a serem preenchidos, tarefa já concluída. Por sua vez, o registro dependeu da fixação definitiva da grafia dos nomes portugueses e das impressoras e editoras. Cada nome de autor aparece em múltiplas variantes. Decidira-se por uma atualização da grafia dos nomes, tomando como padrão a Reforma Ortográfica de 1942, para facilitar o acesso, mantendo-se porém em cada registro específico os nomes e títulos tal qual aparecem nas partituras. Essa decisão foi parcialmente alterada, quanto à atualização, em obediência à Norma da ABNT de outubro de 1988, a NBR 10.523, que fixa como regra geral (item 3.3), “Adotar a grafia encontrada na obra que está sendo registrada”.

Já decidimos também quais as variantes dos núcleos de impressoras e editoras a serem consideradas para o registro genérico, temendo também o erro já mencionado de relacionarmos razões sociais que não sejam de fato variantes de uma mesma impressora ou editora. Conseqüentemente, já estão também liberados esses registros.

A programação do sítio permite a busca por uma variedade de vias de acesso: compositor, autor do texto, título, gênero, impressora/editora e classificação. Carlos Eugênio, Analista de Sistemas que também estudou música, afeiçoou-se ao projeto e tem prestado assistência sempre que se pede. Aguarda-se a liberação do acervo total para a produção dos CD’s patrocinados pela Fundação Gregório de Matos, no que o NEMUS está atrasado.

 

Algumas ilustrações

 

1 - Capa do periódico O Philarmônico. [veja a partitura] [ouça] Contém a valsa "Sempre Viva“, para piano, de Damião Barbosa de Araújo (Itaparica, 27.9.1778 - Salvador, 20.4.1856). Litografia DeLaço, e Baião. "Galeria de jovens compositores e pianistas. Periódico destinado à publicação de composições brasileiras debaixo dos auspícios do Illmo. Sr. Dr. F. A. de Araújo, e da direcção immediata do Professor D. Barboza de Araújo. Constará este periódico de peças para piano, como sejão, quadrilhas de valsas e contradanças, sonatas. Assim como diversas composições para canto. As assignaturas serão de 2$000 por trez números, os quais conterão em sua reunião duas e meia folhas de papel." Datação: < 1856, provavelmente uma das peças mais antigas localizadas.

 

2 - É difícil imaginar como um episódio de homenagem ao Marechal de Ferro, Floriano Peixoto, na conturbada Revolta da Armada, acabe em valsa, tal como aconteceu com O Itaipú na Bahia. [ouça] Temos dúvida ainda se a data da publicação é 1893 ou 1895. O cachoeirano Olegário Pinto Salles notabilizou-se pela composição de dezenas de valsas, várias delas (não esta) publicadas no Rio de Janeiro.

 

3 - A ilustração de Odilon e o título de O velocípede, [veja a partitura] [ouça] Op.25, Polka de salão para piano forte de Joaquim Ferreira da Silva Jr. (09.08.1840 - 24.12.1924), indicam tratar-se da bicicleta antiga, o Velocípede de Michaux (c. 1863). A polca, com o voraz apetite que a fazia penetrar por todos os cantos, comemoraria a chegada à Bahia de uma invenção que se tornou um passatempo entre os ricos, amplamente copiado e aperfeiçoado.

 

4 - A dedicatória ao Barão de Passé [Antonio da Rocha Pitta Argollo (? - 08.02.1877), Barão por decreto de 11.09.1843, e posteriormente Visconde com grandeza (1854) e Conde], sugere a datação entre 1843 e 1854, também entre as mais antigas, para a quadrilha de valsas, A Glória de Pirajá, [veja a partitura] de Balduíno dos Santos Oliveira. Balduíno, dado como "pardo", foi compositor, copista e diretor de periódico de música. Foi membro da Sociedade Montepio dos Artistas, tendo falecido na Freguesia da Sé, em Salvador, em 1890 [Cf. Maria Conceição Barbosa da Costa e Silva, O Montepio dos Artistas, Elo dos trabalhadores em Salvador (Salvador: Secretaria de Cultura e Turismo, Fundação Cultural, 1998), p. 31].

 

5 - José Barreto Aviz, um português esquecido pelas obras de referência de seu país. Nascido em 1852, foi pessoa de alta consideração nos meios musicais de Salvador, aqui chegando em 1894 e falecendo em 1896. Deu aulas de instrumentos de palheta na escola de Belas Artes. É autor de um Compêndio de Música e um Curso de Solfejo, não localizados ainda. Como redator do periódico musical português Anfion, escreveu biografias de poetas e artistas brasileiros, especialmente baianos. Sua marcha 2 de julho [veja a partitura] Op. 17, para piano, é um caso típico de obra editada por uma instituição baiana, mas impressa fora, no caso, na Alemanha. A data sugerida, entre 1894 e 1896, corresponde à estadia dele na Bahia, esta não mais como província do Império, sendo a dedicatória ao Congresso Bahiano, uma homenagem à Bahia.

 

6 - O Hino ao Senhor do Bomfim surgiu de uma competição não isenta de conotações políticas, em comemoração ao Centenário do Dois de Julho (1823-1923). Dela participaram dois poetas famosos e dois músicos, daí resultando três hinos. O aqui representado é letra de Artur de Sales (Artur Gonçalves de Sales, Salvador, 7.3.1879 - id. 25.2.1935), glória da poesia brasileira, e música de João Antônio Wanderley (Salvador 12.1.1879 - id. 2.4.1927). Wanderley foi regente e compositor. Autodidata até seu ingresso no Corpo de Polícia de Salvador (6.2.1891), cuja banda tornar-se-ia famosa, ascendeu na corporação de mero aprendiz até contramestre e mestre (4.1.1902), tornando-se alferes em 1903. Excursionou com a banda sinfônica que estruturou, por vários estados, inclusive gravando para a Casa Edison (1917). Deixou mais de duzentas composições. O Senhor do Bonfim, continuando a fazer política, tem este seu hino hoje como hino oficial da Bahia.

 

7 - Germano Ernesto de Souza Limeira, nasceu em Itaparica, em 1839, e faleceu em Valença, em 1887. Chegou a ser professor do Liceu de Artes e Ofícios e regente da orquestra do Teatro São João. “Canção da escrava” e “Canto do Africano”, com textos tirados de Scenas da Escravidão, [veja a partitura] de um autor e data ainda não identificados, foram publicados em benefício de D. Maria dos Passos, vítima do naufrágio do vapor S. Salvador e refletem o sentimento abolicionista na Bahia.

 

8 - Capa do periódico O Papão, 1 (23 jan. 1904). Contém o pas-de-quatre "Buscando amores“, de Mário Silva. Ilustração de Bailon (Presciliano Atanagildo Isidoro da Silva, Salvador, 17.5.1883 - Rio de Janeiro, 7.8.1965). O ilustrador e caricaturista tornar-se-ia uma das glórias da pintura brasileira: Presciliano Silva.

 

9 - Miguel dos Anjos de Sant’Anna Torres (16.12.1837 - 16.07.1902) foi especialmente louvado por Guilherme de Melo por sua competência no “gênero fúnebre”. Esta peça ligada ao carnaval baiano é um indício de que era um mestre da quadrilha também.

 

10 - A paixão do baiano pelo futebol também se reflete em música. O tango para piano 3 X 0 em campeão é lavagem, não é?, de Enoch Torres é uma homenagem, em tom de bravata, ao Sport Club Ypiranga, de saudosa memória, pela brilhante vitória sobre o Botafogo Sport Club.

 

11 - Partitura danificada da modinha Se Márcia visse os encantos, [veja a partitura] de José de Souza Aragão. Poeta e editor Tito Lívio. Primeira estrofe de Bocage. Dedicatória ao Visconde de Sergimirim (1807-1880). Sugestão de datação > 1871 < 1880.

 

12 - O “Quis debalde varrer-te da memória”, primeiro verso de Ainda e sempre [veja a partitura] [ouça] do poeta Plínio de Lima (1846-1873), do grupo boêmio de Castro Alves, de tendência igualmente condoreira, tornar-se-ia modinha famosíssima na música de Xisto de Paula Bahia (1841-1894). É o único impresso do acervo a ter tido duas edições, [veja a partitura] ambas aqui representadas. O “retorno” metafórico de Domingos Caldas Barbosa, qualquer que seja o importe de brasilidade que tenha levado a Coimbra e Lisboa, e o que isto tenha contribuído para a canção luso-brasileira parece, do ponto de vista documental, infinitamente mais importante para a modinha brasileira do que a sua viagem de ida. Afastado do Brasil desde 1763 e não tendo jamais regressado, é fundamental que se busquem os vetores que o trouxeram de volta ao Brasil como influência. Domingos Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca (1779-1855) pode, comprovadamente, ter sido um desses vetores, entre outros, como a publicação baiana, em fascículos, da Viola de Lereno (1813) também deverá ter sido. Já pelo final do século 19, Sílvio Romero apontava para versos do Caldas que corriam anônimos pelos quatro cantos do Brasil. Visto como retorno, o dialeto criado no arcadismo luso-brasileiro estaria na base de nossa música popular, como uma tradição que se gerou e inventou a partir daí. Com o Ainda e sempre, já tão distante, em plena tradição romântica que Pedra Branca apenas sinalizara, a modinha baiana chegava ao seu mais alto ponto.

 

Agradecimentos

 

Pouco poderíamos ter feito sem o apoio do CNPq, aqui representado por Vera Fonseca e Cristina Reis.

Sem o exemplo e a ajuda de Mercedes Reis Pequeno nem sequer teríamos pensado em levantar esses dados sobre a Bahia. Todo esse esforço é uma homenagem a ela, musicóloga e bibliotecária de música das maiores que o Brasil terá, membro da Academia Brasileira de Música e tão prestativa quanto alguém pode ser. Chefiou a Divisão de Música da Biblioteca Nacional até aposentar-se. Continua gerindo projetos laboriosos de bibliografia musical brasileira, como a que superintende para a ABM. Sua sucessora, na Divisão de Música e Arquivo Sonoro, Glícia Campos, seguiu-a de perto na disposição em servir.

Sem dúvida, a maior contribuição nos vem do acervo do Centro de Documentação do Arquivo Municipal de Salvador, da Fundação Gregório de Matos, a cujo Diretor, Francisco Sena e à sua equipe de bibliotecárias agradecemos.

Há muito se sabe que a Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ detém um dos mais ricos acervos de música brasileira do passado existente no Brasil. Agradecemos a ajuda das bibliotecárias Dolores Castorino Brandão, Maria Luisa Nery de Carvalho e Teresa Cristina de Vasconcelos, a permissão do então Diretor da Escola de Música, Prof. Dr. João Guilherme Ripper e a assistência da Dra. Vanda Lima Belard Freire.

No Instituto de Estudos Brasileiros da USP, com a ajuda da Prof. Flávia Toni e de suas bibliotecárias, tivemos acesso à Coleção Mário de Andrade e a obras que há muito tentávamos consultar.

Em Salvador, a Biblioteca do Instituto Feminino e a Biblioteca do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia sempre estão presentes. A colaboração de Célia Mattos, no setor de obras raras da Biblioteca Pública do Estado da Bahia tem também sido irrestrita.

Dra. Angelina Nobre Rolim Garcez, historiadora de mérito, nos orientou sobre aspectos ligados à história comercial na pesquisa, assim como nos chamou a atenção para a Revista da Associação Typographica Bahiana, inclusive com duas peças de Manoel H. do Carmo.

Colegas como Conceição Perrone e Pablo Sotuyo nos passaram peças importantes, produtos de suas investigações.

Maria Tereza Groetelaars Alves Dias nos permitiu copiar peças valiosas de sua coleção particular, um verdadeiro tesouro de família, que ela abordou de modo exemplar em seu “Estudo bibliográfico de um acervo particular de música de salão para piano editada no Brasil no início do Séc. XX”, trabalho apresentado no II Simpósio Brasileiro de Música, em Salvador (1992), ainda inédito.

A grande folclorista baiana Hildegardes Cantolino Vianna, com o seu usual desprendimento, nos cedeu peças de sua família, como o fez também a benemérita Dulce Martins Lamas, do Rio de Janeiro, em relação à sua avó paterna, Valerie Montreiul Martins.

Agradecimentos também devem ir para a família do saudoso Dr. Fernando Amaral, particularmente a D. Maria Leonor Amaral Moreira, pelas peças e informações fornecidas sobre seu bisavô Joaquim Ferreira (1840-1924), cujos manuscritos são também de interesse. À Dra. Ogvalda Devay de Souza, nosso reconhecimento pelas notícias sobre seu avô Cazuzinha. Márcio Meirelles também nos cedeu cópias de peças de sua coleção particular.

Em parte depositado na Biblioteca da Escola de Música da UFBA, do acervo do Pe. Luis Gonzaga Mariz, jesuíta português que tanto fez pela música na Bahia, obtivemos também algumas peças de grande interesse.

É impossível, entretanto, agradecer a todos que ajudaram o NEMUS e o seu Coordenador nesses anos em que se vem coletando cópias de manuscritos e impressos. Serão a base para um inventário preliminar para um dicionário de músicos e de expressões musicais na Bahia que dependerá da ajuda de todos. Seria também desejável que o sítio do NEMUS fosse sonorizado para que tivesse um maior alcance popular.

São muitos os agradecimentos devidos ao compositor e acadêmico Edino Krieger, atual presidente da Fundação Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro, e da Academia Brasileira de Música, bem como à sua eficiente e dinâmica secretária executiva, Valéria Peixoto. Obtivemos, graças a eles, cópias xerox de 37 partituras do acervo do MIS.

 

O Nemus

 

O Núcleo de Estudos Musicais da Bahia surgiu em agosto de 1997 tendo como objetivo geral o estudo musical e musicológico de várias expressões da música baiana e brasileira do presente e do passado. Era então constituído de Manuel Vicente Ribeiro Veiga Junior, Coordenador, Luciano Carôso, apoio técnico, Leandro Gazineo, Márcio Valverde e Tito Baqueiro Cerejo, bolsistas de diversas categorias. Todos músicos: um etnomusicólogo, três compositores e um regente, tendo Tito também formação em Letras. Compromissos profissionais subseqüentes afastaram Márcio e Tito, entrando Hugo Leonardo Ribeiro e Rodrigo Garcia, ambos compositores, em substituição; Tendo concluído seu mestrado em etnomusicologia, Hugo ora cursa o doutorado, como o faz Leandro, em relação ao seu mestrado em regência. A mais recente aquisição do grupo, Sonia Maria Chada Garcia, nos traz um segundo doutor em etnomusicologia, contribuindo para a consolidação do NEMUS. Além de pesquisadores, são todos executantes de diversos instrumentos, tendo vários deles substancial vivência de música tradicional e popular, também. Em vias de associar-se ao grupo, Pablo Sotuyo Blanco, com doutorado em composição e concentração secundária em musicologia histórica, contribuirá ainda mais para a sua consolidação, assim como Pedro Kröger, doutorando em composição. Carlos Eugenio Dias Carreiro colabora com o NEMUS como analista de sistemas,

Várias linhas de pesquisa estão representadas entre os constituintes do NEMUS: música e cultura, composição, execução e educação musical.

 

Manuel Veiga, Coordenador

Salvador, 9.6.2003

 

 

 

 

 

 

Compositores

AGUIAR, Raymundo

ALBERTAZZI, Antônio Henrique

ALMEIDA, H. de

ALMEIDA, Mathias d'

ANDRADE FILHO, João Baptista de

ANJOS, Severo dos

ARAGÃO, José de Souza e

ARAGÃO, Lourenço José de

ARAÚJO, Damião Barbosa de

ARAÚJO, F. A. de

ARAÚJO, Izaltino J. de

ARAÚJO, M. J. de

ARGOLLO, Livino José de

ASSIS, Virgílio Francisco de

AVIZ, J. Barreto

BAHIA, Xisto

BAIÃO, M. E. P.

BARATA, João Amado Coitinho

BARRETO, José dos Santos

BARROS, Firmino

BARROS, Octaviano B. de

BASTOS, Manoel Tranquilino

BEZERRA, José dos Santos

BOCCANERA, Luiza Leonardo

BRAGA, Francisco

C. FILHO, P. G.

CABRAL, Julia Seixas do Valle

CABRAL, Oswaldo

CANGUSSÚ, Antonio Raymundo

CANTOLINO, Augusto

CARDOSO, Francisco de Magalhães

CARDOSO, Percy

CARDOZO, Cyriaco de

CARMO, Manuel do

CARVALHO, Antonio Marques de

CARVALHO, Francisco

CARVALHO, Joubert de

CARVALHO, Prudêncio de

CARVALHO, Urbano

CASTRO, Oscar Hilário de

COLÁS, Francisco Libanio

CORREIA, Ilisário E. M. da Graça

CORREIA, José Bruno

COSTA, F. J. da

COSTA, Fernando E.

COSTA, Fernando F. da

COSTA, Pereira da

COVA, Álvaro

DANTAS, João Manoel

DE VECCHI, Geraldo

DOMENECH, Remígio

ERISMANN, Georgina

ESPÍRITO SANTO, Antonio Manoel

FERRARO, Rosa M.

FERREIRA, Joaquim

FIGUEIREDO, Zoroastro G.

FORCUCCI, Humberto

FRAGA, [Manuel] Ambrósio dos Santos

FRANCO, M. Pastor

FRANCO, Permínio

FREIRE, Affonso Sizenando da Silva

FREITAS, Angelo

FREITAS, José Thomaz de

FROES, Silvio Deolindo

GALVÃO, Joviniano da Rocha

GIUNTINI, Pedro Achilles

GOMES, Agostinho Antônio

GOMES, José Liandro

GONÇALVES FILHO, Antonio Diniz

GONÇALVES, Francisco de P.

GONÇALVES, Pio

GONZALEZ [?], Antônio da Purificação

GUEDES, Maria Laudelina

HYPOLITO, Adriano

JATOBÁ, Pedro

KRÜGER, W.

LABORDA, Delfim E.

LEMOS, Antônio V. de

LENTINI, João José

LIMA, G. de Mello

LIMEIRA, Germano E. de Souza

LUZ, José Pereira da

MACHADO, Domingos de Faria

MACHADO, Francisco Olavo de Sales

MARIZ, Luis Gonzaga

MELLO, Ananias Dias de

MELLO, João Alves de

MELLO, Porphirio de Lima S. e

MENEZES, Antônio Q. Barretto de

MENEZES, Astério

MENEZES, Cardoso de

MIGUES, José Francisco

MIRANDA, Paulo

MONÇÃO, Francisco R.

MONTALVÃO, Lucio de

MONTEIRO, Manoel

MORAES, Antônio

MORAES, Carmen Alves de

MOREIRA, Carmen Alves

MOURA, J.

MÜLLER, Gregório

NASCIMENTO, Ephifânio Cosme do

NEPOMUCENO, João Braz

NERY, Manoel Justo Ribeiro

OLIVEIRA, Anísio

OLIVEIRA, Armando H.

OLIVEIRA, Balduíno dos Santos e

OLIVEIRA, Horacio

OSTERNOLD, Antonio

PARAGUASSÚ, Innocencio

PEREIRA, Antônio Muniz

PIMENTA, Antonio Salustiano

RAMOS, Joel

RANGEL, Raymundo

REBOUÇAS, Alípio

RIBEIRO, João Ladislau

RIBEIRO, Maria Ritta Justo

RIBEIRO, Pedro U.

RIOS, Horacio de Jesus

RIVERO, Demetro

ROCHA, Firmino R.

RÔXO, B. M.

SÁ, César de

SÁ, Joaquim Silverio de Bittencourt e

SÁ, Manoel Thomé de Bittencourt e

SACERDOTE, João Baptista

SACRAMENTO, Custódio do

SALLES, Camerino

SALLES, Olegário P. de

SALLES, Possidonio Pinto da Silveira

SALLES, Silveira

SAMPAIO, Wilson

SANTA IZABEL, Luiz P.

SANTIAGO, J. Camillo

SANTINHO

SANTINI, Francisco

SANTOS, Marieta M.

SERRA, Julio Antonio Leal

SILVA, Aristides

SILVA, Francisco Ferreira de Araújo

SILVA, Luiz Joaquim da

SILVA, Manuel da

SILVA, Mario

SILVA, Othelo de Araújo e

SILVA, Virgílio Pereira da

SILVEIRA, Augusto Balthazar da

SILVEIRA, Raymundo Nonato da

SOUZA, A. A. B.

SOUZA, A. Barros de

SOUZA, Dante J. de

SOUZA, Ernesto de

SOUZA, J. H.

SOUZA, Sergio Pio de

TELLES, M. L.

TORRES, Enoch

TORRES, Miguel

TRAVESSA, F.

TRIGUEIROS, Marinosio

TRINDADE, A.

VALENÇA, Sebastião

VALENTE, Assis

VALLADARES, João Nepomuceno

VASCONCELLOS, J.

VIANA, Domingos da Rocha

VILLA-LOBOS, Heitor

WANDERLEY, Claudionor

WANDERLEY, João A.

Poetas e Autores

[A. P. S].

ALBA, Carlos d'

ALMEIDA, José Moura

ALMEIDA, Mathias d'

ANDRADE, E. V. de

ANNIBAL, Theophilo

[B. B.]

BAHIA, Xisto

BARROS, C. Paula

BASTOS, Henrique Teixeira

BENEVIDES, Eliezer

BILAC, Olavo

BITTENCOURT SOBRINHO, Otto

BRAGA, T.

BRITO, João de

BRITO, K.

BRITTO, Raymundo

BUENO, Emilia Cedalia Ferreira

CABRAL, L. G.

CALU

CARDOSO, Brício

CARDOSO, Percy

CARVALHO, Anacleto Rufino de

CARVALHO, Campos

CARVALHO, Domingos J. M. de

CASTRO, José Elesbão

CORREIA, Roberto

COSTA, F. P. Pereira da

CUNHA, Ildefonso Lopes da

CUNHA, J. L.

DANTAS, Tito Vespasiano

DULTRA, Laert

DURÃO, Paulo

ERISMANN, Georgina

ESTRADA, Osório

FERNANDO, Alexandre

FIGUEIREDO, Thomaz

FIGUEIREDO, Zoroastro G.

FORCUCCI, Quirino

GIL, Augusto

GIUNTINI, Pedro Achilles

GOUVEIA, Luis Monteiro de Oliveira

JUNQUEIRA, João José d'Oliveira

JUSTO, Manoel Antonio

LIMA, Plínio de

LISBOA, Bernardo

LÍVIO, Tito

LYRIO, José Moreira

M. C. V.

MARIANO, Olegário

MATTOS, Francisco de

MELLO, Guilherme Theodoro Pereira de

MELLO, João Alves de

MENEZES, A. B. de

MENEZES, Astério

MILLEVOYE

MILTON, Aristides Augusto

MONIZ, Egas

MONTEIRO, Alexandrino

MORAES FILHO, Mello

MOURA, J.

PASSOS, A. C. G.

ROCHA, Julio Alves da

RODRIGUES, Amélia

SALLES, Arthur

SAMPAIO, Wilson

SANTIAGO, Humberto

SILVA, Bento da

SOUZA, F. de

SOUZA, Francisco Fernandes de

SOUZA, Osvaldo Devay de

T. L. S.

TISSO

TITARA, Ladislau dos Santos

UTINGASSÚ, Benjamin Sincinato

VALLASQUES, Tiburcio

VARELLA, Fagundes

VIANNA

VILLASBOAS, José Joaquim

XAVIER, Julio

Ilustradores

Antônio Vera Cruz

Brício Cardoso

Gaspar Wirze

Heráclio Odilon

Manoel Emílio Pereira Baião

Manoel Jacques Jourdan

Presciliano Silva (Bailon)

Severiano Cardoso

 

Gêneros

Ária

04

Canção

04

Canção brasileira

01

Canto para piano

01

Canto sentimental

01

Capricho

01

Carnavalesco

01

Coleção de textos

01

Dobrado

10

Dobrado-polca

01

Fox-blues

01

Fox-shimmy

01

Fox-trot

21

Galope

03

Havanera

01

Hino [escolar]

02

Hino [honorífico]

04

Hino [patriótico]

04

Hino [político]

01

Hino [profissional]

02

Hino [religioso]

21

Lundu baiano

01

Marcha

03

Marcha carnavalesca

01

Marcha militar

03

Maxixe

05

Maxixe baiano

01

Mazurca

02

Melodrama

02

Modinha

21

Modinha a duo

01

Modinha baiana

02

Modinha brasileira

12

Não classificadas

20

Obra teórica

03

One-step

01

Pás-de-quatre

04

Polca

44

Polca balão

01

Polca-tango

01

Quadrilha

02

Quadrilha de contradanças

03

Quadrilha de valsas

04

Recitativo

04

Romance

02

Samba

01

Samba carnavalesco

02

Schottisch

04

Serenata

01

Shimmy

01

Tango

20

Tango argentino

02

Valsa

90

Valsa com variações

01

Valsa-canção

01



Gêneros de maior freqüência.

Freqüência baixa, exigindo explicações.

 

 

 

Impressoras

D.E.I.P.

Edição Nortista

Empresa Helvetico Brasileira

Escola Typ. Salesiana

F. A. C. G. Amorim Lithog.

F. R. Monção

Grupo Recreio Musical

Imprensa Econômica

Imprensa Musica e Lith. de Henrique Albertazzi

Imprensa Official do Estado

Imprensa Popular da Bahia

Lith. Boaventura

Lith. Boaventura J. da Silva

Lith. Bottas & Cia

Lith. Conrado & Arrigoni

Lith. Copistaria Ladeira da Misericórdia

Lith. da Livraria Americana

Lith. de H. Albertazzi

Lith. de I. M. Cajueiro

Lith. de Laço e Baião

Lith. de M. J. d’Araújo

Lith. de Odilon

Lith. de Odilon & Cardoso

Lith. de Odilon & Cardosos

Lith. do Comércio

Lith. Econômica

Lith. Eustáquio Lessa

Lith. Faísca

Lith. G. Robatto

Lith. Jourdan

Lith. Jourdan & Wirz

Lith. Ladeira da Misericórdia

Lith. Moura

Lith. Oliveira Bottas & Cia

Lith. Tourinho

Lith. Typo. M. do Carmo d’Arezio

Lith. Typo. Passos

Lith. V. Oliveira & Cia.

Lith. Viúva Reis

Litho-Typo de Vicente Oliveira & Cia

Litho. Typographia Reis

Lithografia Popular

Livraria e Typografia Santa Cruz

Livraria Econômica de Tolentino Álvares & Irmãos.

Lux

Multilith Imp. Oficial da Bahia

Palais Royal

Sociedade Bahiana de Músicas

T. F. Andrade & Irmão

Tip. Beneditina

Tip. São Joaquim

Typ. Dois Mundos

Typographia de Camillo de Lellis Masson & C.

Typographia de São Francisco

Vera Cruz

Zincographia Palais Royal – BA

 

Editoras

Casa de Músicas Santa Cecília

Casa Guarany

Casa Milano

Deposito e Officina de pianos de Cristhovão F. Lopes

Deposito Tanoa de Pianos, música, calçados e modas

Editôra Mensageiro da Fé

Jesuíno Sobrinho & C.

Livino José de Argollo ed.

Loja 1º. de Setembro

Loja Bello Sexo

Loja das Moças

Loja Leão

Loja O Pyrilampo

Loja Pinto Moreira de Carneiro & Gavazza

Loja Zizi

R. Baptista

Sociedade de Farmácia da Bahia

Souza Leão & Filhos

Tito Lívio ed.

 

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VERGER, Pierre. Notícias da Bahia – 1850. Salvador: Corrupio, 1981.



[1]  A coleta foi iniciada há quase duas décadas, como subproduto dos estudos da modinha na Bahia. O enfoque nos impressos, porém, data de poucos anos. Este trabalho já foi ensaio introdutório para o projeto de pesquisa, não publicado, quando se pretendia demonstrar a viabilidade e relevância de um levantamento dos impressos musicais da Bahia. Foi também relatório final para o CNPq, que patrocinou o projeto, enquanto o CADCT, atual FAPESB [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia] simplesmente optou por ignorá-lo. As linhas gerais nunca se alteraram, mas à proporção que os detalhes e as informações iam chegando, alterações que ainda estão em curso iam se tornando necessárias. Endereçado à Bahia e seus problemas, o estudo parece entretanto tratar de uma situação que aflige outros estados da federação. Com exceção do Rio de Janeiro e de São Paulo (o trabalho pioneiro de Mercedes Reis Pequeno) e, até certo ponto, de Pernambuco e do Pará, o mesmo descuido com os impressos musicais ocorre onde nada a priori o justifica. O resultado é uma percepção da criação musical brasileira distorcida e fragmentada, mero reflexo da centralização do poder. É necessário que isso seja corrigido, tanto mais que o país, como um todo, vive sob a crescente ameaça de perder a oportunidade de desenvolver aqui uma civilização ao mesmo tempo humanística e tecnológica, quando Europa e Estados Unidos falharam por excesso de um aspecto ou do outro. Quanto à autoria, este projeto e trabalho já não são do coordenador do NEMUS, mas de toda sua equipe, e de todos os que têm com eles colaborado.

[2]  Hoje a importante Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ. Seria nomeado diretor no ano seguinte ao da chegada ao Rio de Janeiro.

 

[3]  Em seu “Umfang, Methode und Ziel der Musikwissenschaft” [Campo, método e objetivo da Ciência Musical], Vierteljahrschrif für Musikwissenschaft (1885), Guido Adler já codificara uma divisão entre os campos histórico e sistemático nos estudos musicais e tabulara sua substância e método.

 

[4]  Reflexos de Quintilianus podem ser detectados nos Estatutos do Seminário Episcopal de N. Senhora da Grasa da Cidade de Olinda de Pernambuco, ordenados por D. Jozé Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, XII Bispo de Pernambuco [(Lisboa: Typografia da Acad. R. das Ciências, 1798), Parte III, “Da observância Literária”, Cap. III, ‘Do Canto’ e ‘Do Professor do Canto’, pp. 52-54]. Algo parecido, que desconhecemos, poderia ter ocorrido na Bahia.

 

[5]  Estranhamente, Ceará, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul estão também desassistidos na questão dos impressos musicais, além de outros estados nem sequer mencionados no verbete da Enciclopédia Brasileira de Música.

[6]  Estes dados não são, nem podem ser, um balanço definitivo, mas o do momento. Mudam a cada peça que encontramos.

[7]  Três delas foram realizadas por computador: estes portentos quase sempre obedecem à maioria dos membros do NEMUS. Quando entram Jamary Oliveira e Ricardo Bordini, como reforços superespecializados, os computadores passam a temê-los: já se viu Jamary batendo num deles, um grau de autoridade que jamais o Coordenador do NEMUS terá. Uma quarta peça foi gravada por Andréa Daltro, comigo a acompanhando.

 

[8]  O Arquivo Municipal de Salvador tem apenas textos associados a dois melodramas tardios (década de 1950) de Weldon Americano da Costa e Othelo de Araújo e Silva.

 

[9]  Construção iniciada em 1806, concluída em torno de 1813, deliberadamente incendiada, ao que tudo indica, em 1923, parte talvez da sanha de reforma urbana que destruiria a venerável Igreja da Sé para a passagem de bondes.

 

[10] O nome é encontrado novamente em associação a Damião Barbosa de Araújo, na publicação de O Philarmônico. Agradeço a Pablo Sotuyo a correção de um erro de leitura e a sugestão de que fosse ele o responsável pelas despesas de publicação do periódico.

[11]  “Data est nobis harmonia non ad voluptates rationis expertes, sed ut per eam dissonantem Circuitum animarum componamus, et ad concentum sibi proprium revocemus” (Plat. inv.)